Turismo religioso: fé que move pessoas e transforma destinos
- Lucas Izoton

- 27 de out.
- 3 min de leitura

O turismo religioso é um dos segmentos mais antigos e expressivos do turismo mundial. Ele nasce da necessidade humana de buscar sentido, conexão e transcendência. No Brasil, essa dimensão espiritual se entrelaça à cultura, à história e à identidade coletiva — e se revela também como um poderoso vetor de desenvolvimento econômico e social.
Segundo o Censo de 2002 do IBGE, 83,6% dos brasileiros se declaravam cristãos — sendo 56,7% católicos e 26,9% evangélicos. Outros 9,3% afirmavam não ter religião e 7,1% seguiam outras crenças, como espiritismo, religiões de matriz africana e tradições indígenas. Embora o país seja um Estado laico, conforme a Constituição de 1988, o sentimento religioso segue profundamente enraizado na alma do povo brasileiro.
Essa fé se manifesta em igrejas, festas, romarias e promessas. E, junto com ela, floresce um segmento turístico que movimenta milhões de pessoas e bilhões de reais todos os anos.
O Brasil abriga destinos consagrados do turismo religioso. O mais emblemático é a cidade de Aparecida do Norte (SP), com cerca de 12 milhões de visitantes anuais. Outros centros importantes são Juazeiro do Norte (CE), terra do Padre Cícero, e o Círio de Nazaré em Belém do Pará, ambos com 2,5 milhões de fiéis por ano; Trindade (GO), com o mesmo volume; e Nova Trento (SC), terra de Santa Paulina, que recebe 1 milhão de devotos.
No exterior, o fenômeno se repete em proporções ainda maiores. O Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, recebe 20 milhões de visitantes por ano; o Vaticano, em 2025, deve alcançar 30 milhões; Santiago de Compostela, na Espanha, chega a 10 milhões em anos santos; Fátima, em Portugal, recebe 6 milhões; Jerusalém, berço das três maiores religiões monoteístas, é destino de peregrinos do mundo inteiro; e Meca e Medina, na Arábia Saudita, acolhem milhões de muçulmanos em seus rituais anuais. Estima-se que o turismo religioso global atraia cerca de 330 milhões de visitantes por ano.
Esses lugares têm algo em comum: unem espiritualidade e desenvolvimento. Onde há fé, há movimento — e onde há movimento, surgem oportunidades. O turismo religioso gera empregos diretos e indiretos, estimula o comércio local, fortalece o artesanato e o setor de hospedagem, e revitaliza patrimônios históricos. Mais que um negócio, é uma forma de preservar tradições e fortalecer o sentimento de pertencimento das comunidades.
O visitante não busca apenas um lugar, mas uma experiência — e, muitas vezes, uma transformação interior. O turismo religioso convida ao silêncio, à contemplação e ao encontro com o sagrado, seja qual for a crença.
O Espírito Santo tem uma vocação natural para o turismo religioso, unindo fé, natureza e hospitalidade. Entre seus principais ícones estão:
O Convento da Penha, em Vila Velha, símbolo da fé capixaba e palco da tradicional Festa da Penha, uma das maiores celebrações religiosas do país;
O Santuário Nacional de São José de Anchieta, marco da presença jesuíta e da história do Brasil colonial, com sua famosa Caminhada dos Passos de Anchieta;
O Mosteiro Zen Morro da Vargem, em Ibiraçu, primeiro mosteiro zen-budista da América Latina, que atrai visitantes em busca de silêncio e equilíbrio interior.
Esses três destinos, apesar de distintos em doutrina e origem, podem integrar um circuito espiritual capixaba, representando um diálogo de fé, cultura e tolerância. Um projeto articulado entre Governo do Estado, prefeituras, Fecomércio, Findes, Sebrae, entidades religiosas e a sociedade civil poderia transformar o Espírito Santo em referência nacional de turismo inter-religioso e sustentável.
Chegou a hora de elaborar um plano estratégico de médio e longo prazo, com metas, capacitação, infraestrutura e promoção integrada. Isso fortalecerá a imagem do Estado como destino de fé, cultura e paz, além de gerar renda e melhorar a qualidade de vida dos capixabas.
Mais que um setor econômico, o turismo religioso é uma ponte entre o material e o espiritual, entre o passado e o futuro. Ele reafirma que o homem não vive só de tecnologia, mas também de esperança.
E talvez esteja aí seu maior valor: lembrar-nos de que, em meio às distâncias do mundo moderno, a fé ainda é capaz de aproximar e conectar as pessoas.








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