A filosofia grega nos dias atuais
- Lucas Izoton
- há 15 horas
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Quando compartilho com um amigo um conceito em que acredito, ou mesmo uma frase famosa de um empreendedor ou guru, muitas vezes ele elogia e quer saber a origem do pensamento. Costumo brincar dizendo que provavelmente, há mais de dois milênios, os filósofos gregos já discutiam esse assunto de forma detalhada.
Muito antes dos podcasts, TED Talks ou livros de autoajuda lotarem as prateleiras, os grandes pensadores da Grécia Antiga já debatiam temas que continuam a nos inquietar até hoje: felicidade, virtude, ética, propósito, coragem, poder, vaidade e até… produtividade. Há cerca de 2.400 anos, figuras como Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Sêneca e outros promoviam debates profundos — em praças públicas, banhos públicos, pórticos e escolas filosóficas — sobre como viver bem e com sentido.
A prática da filosofia grega era, antes de tudo, diálogo. Sócrates, por exemplo, não escrevia — ele perguntava. Provocava. Buscava a verdade na dúvida, no confronto de ideias. Algo não muito diferente do que fazem hoje coaches, mentores, professores e empreendedores de sucesso ao estimularem reflexões profundas em suas audiências. A diferença é que, no lugar do TikTok ou do Instagram, o palco era a Ágora — a praça pública de debates de Atenas — cujas ruínas já tive a oportunidade de conhecer, próximas ao Templo de Hefesto.
E o que diziam esses pensadores gregos que ainda nos toca?
Aristóteles falava da eudaimonia — a verdadeira felicidade que nasce de viver com excelência moral e intelectual. Ele afirmava que o sucesso não era um destino, mas o resultado de hábitos diários. Soa familiar? É praticamente o mesmo conceito repetido por escritores e grandes empreendedores que defendem a disciplina e o aprimoramento constante como chaves para o sucesso.
Sócrates, com sua humildade inquieta, ensinava: “Conhece-te a ti mesmo”. Essa frase, cravada no templo de Delfos, tornou-se o alicerce de toda a filosofia ocidental. Hoje, ela ressurge nas palavras de líderes que repetem, de diferentes formas, que o autoconhecimento é o primeiro passo para liderar e transformar.
Os estoicos — como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio — pregavam o domínio das emoções, o foco naquilo que está sob nosso controle e a aceitação serena daquilo que não podemos mudar. Se isso não é “inteligência emocional”, então o que é? Daniel Goleman apenas traduziu, com linguagem científica, algo que os estoicos já praticavam no cotidiano do Império Romano.
Quando estudei e apliquei o conceito de Qualidade Total na minha empresa, utilizávamos com frequência o método japonês Kaizen, a melhoria contínua. Alguns especialistas consideram o Kaizen um aprimoramento do estoicismo grego, que encorajava a constante busca por evolução e superação de obstáculos.
Epicuro, por sua vez, defendia uma vida simples, pautada pelo prazer das pequenas coisas e pela ausência da dor. O empreendedor que hoje busca equilíbrio entre vida pessoal e profissional, qualidade de vida e tempo com a família já está, talvez sem saber, ecoando a sabedoria epicurista.
A filosofia grega não era feita para os livros, mas para a vida. Não era teoria — era prática. Um exercício diário de reflexão e ação. E é exatamente isso que o mundo contemporâneo tem redescoberto: que pensar com profundidade, agir com ética e viver com propósito não são modismos — são necessidades humanas atemporais.
Enquanto nos distraímos com algoritmos e notificações, os gregos nos lembram de olhar para dentro. De buscar sabedoria, e não apenas informação. De valorizar boas conversas em vez de ruídos. De encontrar sentido no meio do caos. Eles não tinham Wi-Fi, mas tinham conexão. Não tinham MBA, mas tinham mestres.
Do alto dos seus 2.500 anos, os filósofos gregos ainda sussurram verdades que o mundo moderno muitas vezes esqueceu — mas que os melhores líderes, professores e empreendedores do presente estão reaprendendo a ouvir e a nos transmitir com outras palavras, porém com o mesmo sentido.
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