A Pedra Azul pelo olhar de Eliezer Batista

Tive a oportunidade de ler o livro comemorativo dos 100 anos do engenheiro Eliezer Batista, rever seu documentário e assistir a diversos vídeos com suas palestras. A cada novo contato, minha admiração por ele só aumenta. Eliezer foi presidente da Vale por duas vezes, Ministro de Minas e Energia e Secretário de Assuntos Estratégicos do Governo Federal.

Tive o privilégio de conhecê-lo e conviver um pouco com o Dr. Eliezer, como todos nós o chamávamos, especialmente durante o período em que, como voluntário, presidi o conselho do Instituto Jutta Batista da Silva, entidade assistencial que leva o nome de sua esposa, nascida na Alemanha, e que atende os municípios das Montanhas Capixabas.

Eu costumava brincar que, ao conversar com ele, fazia uma pergunta de 10 segundos e recebia uma resposta de 10 minutos — uma verdadeira aula sobre engenharia, logística, negócios, meio ambiente, voluntariado e, claro, sobre o desenvolvimento sustentável de Pedra Azul, sua história de transformação e o futuro promissor da região. Inclusive, tive a honra de homenageá-lo dando seu nome ao auditório principal do Meeting Center do Vista Azul Apart Hotel.

Na década de 1950, ele contou que, para conhecer Pedra Azul, precisou ir de jipe de Vitória a Cachoeiro e depois seguir muitos quilômetros a cavalo. A vegetação era inteiramente nativa, e havia apenas uma pequena colônia italiana com 20 ou 30 casas, cujos moradores eram majoritariamente do Vêneto.

Para ele, amar era dividir sonhos e terras. Seu sítio em Pedra Azul era um ato de amor, um projeto de vida que ele e sua esposa Jutta construíram juntos. Ele lembrava do norueguês Erling Lorentzen, um estrangeiro que amou o Brasil e Pedra Azul tanto quanto eles, ajudando a desenvolver a região até que ela se tornasse um dos melhores lugares para se viver no campo no Brasil. Enaltecia também os esforços do empresário Jônice Tristão, um grande parceiro em suas iniciativas.

Pedra Azul, dizia Eliezer, reunia quatro de suas grandes paixões: família, literatura, música e botânica. Lá, ele e Jutta reuniam os sete filhos e nove netos, que nadavam no lago, subiam em árvores e andavam a cavalo. Mantinham uma biblioteca com mais de 200 livros de botânica e criaram uma reserva ecológica com espécies exóticas de diversos países.

Falava com orgulho de que experiências realizadas em seu sítio — um verdadeiro pedacinho do céu em terras brasileiras — contribuíram para a criação de um novo conceito nacional de reflorestamento em larga escala, adotado inclusive pela Vale.

Mas, para ele, as árvores mais belas que plantaram foram a educação, a saúde e a cidadania. O Instituto IJBS, com seus voluntários e entidades atendidas, foi a prova de que valeu a pena. Pedra Azul não era apenas um paraíso na terra, mas uma espécie de “república autônoma”, formada por amigos e admiradores que investiram tempo, recursos e afeto na região.

Ele enfatizava que Pedra Azul é um exemplo para o país — com uma população bondosa e solidária ao extremo, onde todos se ajudam mutuamente. Não se veem crianças fora da escola, nem idosos abandonados nas ruas. Pode até ainda haver pobreza, mas não há indigência. Pedra Azul é uma erupção de cidadania, da qual o Brasil deveria se inspirar.

Hoje, graças ao casal Jutta e Eliezer, bem como um grande número de moradores e investidores, Pedra Azul é um dos destinos turísticos mais admirados do Brasil, natureza preservada, hotéis e gastronomia de bom nível, e um ambiente acolhedor que encanta turistas e moradores. O futuro da região é promissor — com potencial crescente de desenvolvimento sustentável, inovação e valorização imobiliária — sem jamais perder sua essência humana e comunitária. Uma verdadeira joia capixaba no coração da serra, que segue honrando o legado de Eliezer Batista.

Eliezer Batista, nascido em 1924 e falecido em 2018, foi um verdadeiro “engenheiro do Brasil”. Poliglota autodidata, dominava vários idiomas e, apesar de cidadão do mundo, considerava-se capixaba e, com orgulho, um morador de Pedra Azul.